Artigo: BYD e GWM adotam estratégias totalmente opostas no Brasil

Uma finca raízes nos elétricos premium e a outra vai ao mercado geral com híbridos

BYD, de Build Your Dreams, e GWM, de Great Wall Motor, têm mais em comum do que a origem chinesa e siglas de três letras para identificá-las. As duas são as principais newcommers (recém-chegadas) da eletrificação do mercado brasileiro e pretendem incomodar bastante as marcas já tradicionais e estabelecidas por aqui.

Juntas são, sem sombra de dúvida, a maior novidade recente de nossa indústria. Cumprem hoje, junto com a Caoa Chery, um papel semelhante ao que já representaram Toyota, Honda, Renault e Peugeot Citroën no fim dos anos 90, ainda que respeitadas as devidas proporções.

As duas não chegam de mãos vazias, mas sim carregando trunfos interessantes. A BYD já tem vários anos de experiência no mercado nacional com elétricos em frotas corporativas, como forças policiais e prefeituras, além de uma fábrica de ônibus elétricos e de painéis solares em Campinas, SP, e de baterias em Manaus, AM.

E a GWM tem a fábrica de automóveis de Iracemápolis, SP, adquirida da Mercedes-Benz, bem como declarados R$ 10 bilhões para investir aqui.

2023 será o primeiro ano efetivo dessa disputa, mas as armas já estão bem colocadas e permitem, agora, uma análise mais apurada das estratégias dessas duas marcas para eletrificação do mercado brasileiro.

A BYD já saiu na frente, o que não deixa de ser uma boa vantagem. Já tem três concessionárias abertas (São Paulo, Vila Velha e Curitiba) e está em vias de abrir mais dezenas, em várias praças do País, a maioria com grupos grandes, reconhecidos e bem-estruturados – gente que realmente entende do negócio de vender carros.

Além disso já apresentou os modelos Tan e Han, SUV e sedã, ambos 100% elétricos e à venda.

A estratégia central da BYD é apresentar-se ao mercado como marca premium, com produtos coerentes com essa faixa de mercado — tanto em qualidade quanto em preço — demonstrando ser tecnologicamente avançada.

No dia a dia esta proposta parece, ao menos em primeiro momento, dar frutos: em uma semana de convivência com o BYD Tan a reportagem do Use Elétrico precisou responder inúmeras vezes às dúvidas “Que carro é esse?” e “Que marca é essa?”.

Chamou muito a atenção o fato de que os autores das perguntas eram usualmente jovens sempre abaixo dos 30 anos, que se demonstraram claramente empolgados com as tecnologias do veículo — seja pela propulsão totalmente elétrica seja pelos gadgets e sua central multimídia em estilo tablet/celular.

Aqui começa a grande diferenciação. A GWM optou por um caminho totalmente oposto: quer ser no Brasil uma montadora mais generalista, não tão acima na prateleira do mercado. Pretende brigar com Toyota, Volkswagen, Jeep. E, de forma até surpreendente, não lançará nenhum veículo elétrico em sua primeira fase por aqui, mas somente híbridos (convencionais e plug-in).

A GWM entende que seu sistema híbrido é “solução perfeita para o Brasil”, conforme explanou em recente apresentação on-line para jornalistas especializados. Isso porque, entre outras razões, entendem seus executivos, o híbrido permitirá “real experiência de carro elétrico com suporte de motor a combustão quando necessário”, o que oferece “tranquilidade de contar com a condução elétrica em um país sem infraestrutura nacional de recarga”.

A fabricante promete que seus híbridos plug-in terão autonomia de 200 quilômetros apenas em modo elétrico, o que, caso confirmado, será realmente um diferencial, dada a quilometragem próxima até mesmo de alguns modelos 100% elétricos vendidos no mercado nacional.

A GWM, porém, ao que tudo indica, trabalhará com mais de uma marca no Brasil, assim como já o faz em outros mercados, tais como Haval, Tank e Poer, o que pode ser bem confuso para o consumidor local, especialmente vindo de uma fabricante desconhecida. A BYD, por seu lado, prefere fixar bem este único nome, utilizando inclusive a denominação completa Build Your Dreams em emblema na traseira e iluminada no interior de seus modelos.

A BYD também terá modelos híbridos em oferta no mercado nacional, e ainda este ano, baseados na tecnologia própria DM-i. Serão mais acessíveis que os elétricos Tan e Han, que cumprirão então papel de demonstrar tecnologia avançada e de criar desejo pela marca – se não dá para o cliente levar esses modelos, na faixa de R$ 500 mil, dá-se a opção de um híbrido mais barato. Enquanto isso a GWM irá trabalhar somente nesta faixa de mercado, ainda que com mais opções de carrocerias, como uma picape.

Nessa interessante disputa hoje claramente a BYD está na frente, pois já tem resultados práticos e números de venda para mostrar. A GWM, porém, se arma para tirar o atraso contratando profissionais que já estiveram em outras fábricas como BMW, Hyundai, Toyota, Ford e Stellantis.

O ano que vem promete. Estarão as demais fabricantes prontas para enfrentar essa nova concorrência ou ficarão só olhando essa batalha, à distância?

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