Executivo assumiu o posto em janeiro e já lançou quatro carros elétricos por aqui

O engenheiro mecânico Carlos Garcia assumiu o cargo de CEO da Mercedes-Benz Cars & Vans Brasil em janeiro deste ano, do alto de seus 34 anos na montadora. Ele veio diretamente de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde atuava como Gerente Geral de Vendas e Marketing da Mercedes-Benz Vans para o Oriente Médio, para a nova função.
Sob seu comando, neste mês de outubro a Mercedes-Benz se tornou a marca de automóveis de luxo com maior oferta de carros elétricos no Brasil, com cinco modelos: EQA, EQB, EQC, EQE e EQS – Audi e BMW têm quatro e a Volvo, dois. E ele promete não parar por aí: serão pelo menos mais três elétricos Mercedes chegando no país no ano que vem.
Garcia tem experiência em lançar novos produtos em segmentos ainda inexplorados: ele fez parte da equipe que apresentou ao mundo o pequenino Smart, na Alemanha, no fim dos anos 90.
Nesta entrevista exclusiva concedida ao Use Elétrico em São Paulo, na semana passada, ele falou sobre o mercado de carros elétricos no Brasil e o perfil do consumidor deste tipo de produto no segmento de luxo. Acompanhe a seguir os principais trechos da conversa.
Use Elétrico – Com a chegada de EQA, EQB e EQE a Mercedes-Benz se tornou a marca de luxo com maior oferta de elétricos no Brasil. É o primeiro sinal do que vem pela frente?
Carlos Garcia – Nossa estratégia mundial está desenhada. Nós temos nosso plano Ambition 2039, queremos ser completamente livres de CO2 até lá, essa é a nossa meta. Quando olhamos para veículos, queremos ser 100% elétricos a partir de 2030 onde as condições de mercado permitirem. Ou seja, em alguns mercados teremos somente oferta de modelos eletrificados e em outros, dependendo da maturidade de cada um deles, ainda existirão opções de motores a combustão. No Brasil começamos a nossa ofensiva em elétricos recentemente. Em 2020 trouxemos o EQC, e agora em 2022 em junho lançamos o EQS 53 e em outubro o EQA, o EQB e o EQE. A ideia original era lançar só dois modelos agora, mas conseguimos trazer também o EQE. E nosso portfólio elétrico ainda não está completo, devemos ter outros veículos por vir, mas não vão demorar muito.
UE – Quais seriam estes novos modelos?
CG – São os SUVs que já apresentamos na Europa e Estados Unidos, o SUV EQE e SUV EQS. Estamos planejando trazê-los no primeiro semestre do ano que vem.
UE – E a Sprinter elétrica, também virá?
CG – Nós temos esse veículo no mercado europeu, mas para o mercado brasileiro ainda estamos estudando. Está no nosso radar. Estamos sempre atentos aos movimentos de mercado, mas talvez este não seja ainda o momento ideal para trazê-lo. Estamos no meio de uma transição, com o Euro 6, e esses veículos também ajudam a atender metas ESG. Entendo que nesse caso, olhando a situação como um todo, tirar os veículos antigos de circulação ajuda mais do que trazer veículos elétricos. A frota circulante de ‘Euro zero’, Euro 2 e Euro 3 é muito grande ainda. Os veículos Euro 5 e Euro 6 podem ser considerados filtros ambulantes, porque o ar que entra neles é mais sujo do que o que sai.
UE – Voltando à meta de vender só elétricos a partir de 2030: isso significa que não haverá mais desenvolvimento de motores a combustão na Mercedes-Benz a partir de agora?
CG – Todo o nosso foco de desenvolvimento de produto hoje é “Electric First”. E desde o final do ano passado somos “Electric Only”, ou seja, tudo o que temos em desenvolvimento é nesse sentido. Lógico que há alguns ajustes em modelos que ainda têm um ciclo de vida a ser cumprido, mas em termos de investimento e novos veículos, é 100% olhando para os elétricos. A partir do momento que já se tem definidas as diretrizes, é necessário trabalhar assim. No mercado europeu não se poderá comercializar veículos a combustão a partir de 2035, e em alguns estados americanos haverá um nível de exigência semelhante. De uma forma ou de outra isso já está acontecendo. Em mercados mais maduros, como a Noruega, por exemplo, 80% das vendas já são de elétricos. Toda a indústria está caminhando para isso.
UE – Já dá para calcular quanto do mix de vendas da Mercedes-Benz no Brasil será de elétricos?
CG – Nesse ano ainda será uma parcela pequena, começamos agora, mas com a introdução do EQA e do EQB esperamos um maior volume e um aumento na participação, de forma significativa. Ainda não temos um mix definido porque depende muito também de como o mercado em geral vai se comportar. Mas a nossa decisão é sair do carro a combustão e ir direto para o elétrico. Em algumas versões temos plug-in, como nos AMG, mas é outra característica de produto.
UE – O consumidor do segmento de luxo hoje já chega na concessionária procurando um carro elétrico?
CG – Já existe demanda, não é algo desconhecido para esse tipo de cliente. É um público bem antenado com esse tipo de veículo, ele sabe o que está acontecendo no mercado. As autonomias que já estamos alcançando hoje atendem bem às necessidades desse cliente, como ir para a fazenda, para a casa de praia etc. Naturalmente que se trata de uma mudança de comportamento, do mesmo jeito que tivemos com o celular. Quando seu celular perde um pouco a carga você não fica recarregando a todo momento… com o tempo o cliente vai adquirindo outra forma de se relacionar com o produto. Da mesma forma ocorre com o veículo a combustão: ninguém para no posto para abastecer depois de gastar só um quarto do tanque. Existe hoje, sim, um receio quanto ao carro elétrico, mas ele está ligado simplesmente a uma mudança de postura, há um processo de adaptação. Não se pode pensar neste produto com a mentalidade do outro: quando fazemos isso enxergamos mais problemas do que soluções.
UE – Hoje, na gama da Mercedes-Benz, um elétrico ainda custa mais de R$ 100 mil na comparação com um modelo similar a combustão. Na sua opinião essa diferença vai diminuir?
CG – A situação de preço e de custo varia de acordo com a escala. Conforme ela for aumentando o custo vai diminuindo. Já existem avaliações apontando que em termos de custo de produção em 2025 os valores vão se equiparar. Não está tão longe assim. Qualquer processo industrial precisa de escala para reduzir o custo unitário. Mas de qualquer maneira, no momento, em termos de mercado, os veículos estão bem posicionados, são segmentos distintos. Temos agora inclusive o primeiro veículo elétrico para sete lugares do mercado.
UE – A Mercedes-Benz atualmente vende seus modelos elétricos em 13 concessionárias no Brasil. Há planos de expandir essa rede?
CG – Sim, pretendemos expandir para 19 casas, indo do Nordeste ao Sul, já no começo do ano que vem. E todas as concessionárias terão showroom e prestação de serviços para elétricos.
UE – Uma marca competidora do segmento de luxo está montando uma boa rede de carregadores rápidos em estradas no Brasil. A Mercedes-Benz pretende fazer o mesmo?
CG – A princípio não, porque temos nossa parceria com a Enel X para o wallbox. Quando você compra o veículo já leva o carregador doméstico, a instalação e um ano ou 5 mil km de carga, tudo incluso. E o wallbox pode ficar na casa, no escritório ou outro local onde o cliente achar melhor, aonde ele indicar. Nossos carros já estão alcançando mais de 500 quilômetros de autonomia, e nosso cliente costuma se movimentar de ponto a ponto, não sei se ele pararia no caminho para carregar. Nossa experiência diz que, no caso do nosso cliente, para uma distância maior do que essa ele prefere viajar de avião.