Eletropostos do sistema Anhanguera-Bandeirantes são retirados sem aviso

Equipamentos faziam parte do primeiro corredor intermunicipal para elétricos do País

Graal 67, Rod. Anhanguera: aqui jaz um eletroposto.

Os usuários de veículos elétricos que circulam pelo sistema Anhanguera-Bandeirantes, no trecho entre São Paulo e Campinas, um dos mais movimentados do País, ficaram desassistidos praticamente do dia para a noite. Sem qualquer aviso prévio ou explicação, os carregadores rápidos instalados nos postos Graal 56 (Rodovia dos Bandeirantes, sentido Capital) e Graal 67 (Rodovia Anhanguera, sentido Interior) foram retirados pela CPFL, que administrava os dois eletropostos.

A reportagem do Use Elétrico esteve nesta segunda-feira (24/4) nos dois locais e confirmou a retirada dos equipamentos, que já havia sido relatada por alguns leitores e seguidores do perfil do Use Elétrico no Instagram.

Não há informações oficiais explicando a razão da retirada dos equipamentos – sequer existe qualquer informação a respeito nos locais onde os eletropostos funcionavam. O Use Elétrico solicitou à CPFL, à Aneel e à Rede Graal esclarecimentos sobre o tema, mas ainda não obteve resposta. Caso ocorra, este texto será atualizado.

A reportagem, porém, colheu informações extraoficiais com a gerência dos dois postos. Em ambos foi relatado que a CPFL não estava providenciando a manutenção dos equipamentos – queixa frequente de vários usuários – e que diante deste fato o contrato firmado com a empresa foi encerrado. A seguir, então, a CPFL teria retirado os carregadores na semana passada, sem dar explicações.

Graal 56: cadê o carregador rápido que estava aqui? Sumiu.

Além disso, apenas relatos desencontrados: em um dos postos o responsável disse que novos carregadores não seriam instalados em nenhum dos dois locais, enquanto em outro foi informado que a Rede Graal procurava um novo parceiro para colocar novos carregadores nos mesmos locais. Uma fonte da CPFL Soluções consultada pela reportagem, que pediu anonimato, informou que “o projeto terminou” mas que a empresa já estaria cotando a compra de novos carregadores para instalação nos mesmos postos da Rede Graal.

Fato mesmo é que quem circula pelo sistema Anhanguera-Bandeirantes ficou praticamente sem opções de carregamento rápido durante viagem de São Paulo a Campinas nestas duas rodovias. A única opção disponível agora é o Posto Campeão, no KM 28 sentido Interior, onde foi recém-instalado um carregador rápido de 150 kW da parceria Vibra-Ezvolt. O local, porém, fica praticamente na saída de São Paulo, ou seja: não há opções de meio de caminho, como eram as dos postos Graal 56 e 67.

A gerência de um dos postos ainda relatou que no último feriado de Tiradentes dezenas de usuários de veículos elétricos foram ao posto em busca de recarga, e se surpreenderam com a ausência não só do equipamento como de informações a respeito. Houve casos, segundo relatado, de pessoas que precisaram chamar um guincho para terminar a viagem, pois estavam com pouca carga.

Com isso a é provável que a experiência de algumas pessoas a bordo de um veículo elétrico nestes últimos dias no sistema Anhanguera-Bandeirantes tenha sido negativa, e não por falha do veículo ou de infraestrutura, mas por simples falta de informação. Bastaria a CPFL ou a Rede Graal terem informado com antecedência que os equipamentos seriam retirados, o que teria evitado dissabores para muitos usuários da eletromobilidade nesta que é uma das áreas mais populosas e movimentadas do País.

História

Graal 67, dezembro de 2015. (Foto: Revista Carro)

Os carregadores dos postos Graal 56 e 67 faziam parte do chamado Primeiro Corredor Intermunicipal para Veículos Elétricos do Brasil, ligando justamente São Paulo a Campinas. A inauguração oficial aconteceu no Graal 56 em 27 de julho de 2017, mas o carregador do posto Graal 67 começou a funcionar bem antes disso, em dezembro de 2015 – e foi assim o primeiro do gênero em estradas de todo o País.

Em ambos o carregador foi fornecido pela ABB. Pela parceria estava previsto que a Rede Graal se responsabilizaria pelo custo da energia e a CPFL pela instalação.

Ou seja: além de um contexto de utilização bastante importante, os dois equipamentos ainda carregavam um contexto histórico muito relevante para a eletromobilidade no País. É lamentável que a coisa termine desta forma.

Nos últimos tempos diversos usuários reclamavam da falta de manutenção dos equipamentos – o plugue CCS2 do Graal 67, por exemplo, estava com a lateral quebrada há meses e meses. No Graal 56 era normal a ‘queda’ do carregador, o que exigia religação do disjuntor. Outra falha que costumava acontecer era o não funcionamento da função de parada do carregamento, o que obrigava o usuário a ativar o botão de emergência para interromper a recarga. No mesmo local o cabo AC do carregador estava desaparecido também há meses, o que equivale dizer que o equipamento só funcionava para carregamento rápido DC CC2 e ChaDeMo.

Eletroposto de Campinas

Faixa da CPFL: Mais dúvidas do que respostas.

A reportagem do Use Elétrico também foi conferir o carregador instalado em frente à sede da CPFL em Campinas, instalado na mesma época. O equipamento está funcionando, como pudemos comprovar, porém há alterações importantes.

Até pouco tempo – e assim como os carregadores dos Graal 56 e 67 – não era necessário o uso de nenhum app para iniciar o uso do aparelho: bastava plugar o carro. Agora, para uso deste carregador, é necessário antes ativar a recarga pelo app eRecarga, da própria CPFL. Ocorre, porém, que este aplicativo não está disponível nem na App Store (IOS) nem na Play Store (Android). Só é possível encontrar o link para o aplicativo a partir de um QRCode impresso em uma faixa colocada recentemente em frente ao carregador.

A faixa informa ainda que o eletroposto “está sendo disponibilizado no âmbito de um projeto de pesquisa ANEEL-CPFL, para estudar soluções e modelos de negócio para recarga de veículos elétricos”. Diz ainda que “este é apenas o primeiro, ao final do projeto teremos uma rede de eletropostos disponíveis na cidade de Campinas” – ou seja, não há indicação de instalação de novos carregadores no sistema Anhanguera-Bandeirantes.

O aplicativo libera a carga gratuitamente, porém é preciso selecionar uma forma de pagamento – a única opção disponível no momento é “Mês sem cobrança”, mas por si só o sistema já representa um forte indicativo de que haverá futuramente cobrança pelas recargas. Os eletropostos dos postos Graal 56 e 67 também funcionavam gratuitamente.

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